segunda-feira, 26 de setembro de 2011

o céu




O céu é o companheiro, vigia, juiz, amigo e narrador da minha história. o céu foi o plano de fundo para o desenho de toda minha linha da vida. seja o céu azul ou nublado de dia, seja o céu salpicado de constelações ou o manto negro da noite, era sempre esse plano em que as memórias foram sendo escritas.

Quando meus entes e amigos morreram, a primeira imagem que me lembro foi do céu daquelas tardes, quando voltávamos pra nossas casas, após a última pá de terra sobre suas covas. o entardecer com pássaros, num dia quente. uma estranha paz.

Quando chegava do aeroporto ou rodoviária de uma cidade nova pra mim, era o céu a primeira porta que se abria, me lembro detalhadamente de cada cor, nuance, degradê, tom de cada céu que me recebeu.

Quando terminei cada relacionamento, a primeira coisa que sempre fiz foi ir pra janela, ou rua, e tentar achar resposta, rumo ou algum tipo de sinal, constelação, nuvem que me orientasse ou simplesmente fotografar aquele dia tão divisor, como marcar uma página de um livro, e entender de que forma aquele capítulo foi diferente de todo o restante da (nossa) história. Em cada término perguntava ao céu qual era o sentido de tudo aquilo. em cada fim era o céu o primeiro a me consolar.

Quando ocorriam tempestades violetas eu e meu irmão, ainda crianças, corríamos pra perto de nossa mãe e ficávamos vendo a tormenta lá fora. Quando a chuva acalmava um pouco minha mãe dizia que era dela que vinham os alimentos, verduras, sementes. mas na minha cabeça era como se chovesse sementes ao invés de somente gotas de água. Era o céu que eu olhava e fazia as pazes quando chovia após meses de seca na região do cerrado em que morei por tanto tempo. Desse céu eu também me lembro do cheiro de terra vermelha molhada que o acompanhava nessas horas. era uma festa, apesar do medo dos trovões e ventanias.

Existe ainda um céu místico, o maior de todos; uma colcha de retalhos, com um pedaço de cada plano especial, do mais terno ao mais impactante. o dia em que deitei no quintal da nossa casa em Diamantina e vi ilhas, clareiras onde pequenas constelações se moviam, ou seriam as nuvens? tem o retalho com o céu imaginário dos meus desenhos, tem o céu de uma tarde em Copacabana, onde eu caminhava e foi cortada por um helicóptero puxando e socorrendo um banhista que se afogava. Tem o retalho do céu amanhecendo na rodoviária de Belo Horizonte, naquele domingo que chegava pra morar aqui, com malas e caixas de papelão.

Tem o retalho do céu vermelho dos meses de maio e junho, quando meu pai palavra: " é, quando o céu fica rosa e laranja assim é porque vai fazer frio esse ano." Tem o retalho do céu azulado, meio escuro, meio claro, iluminadíssimo pela lua cheia no mato, quando saímos feito loucos de madrugada no sítio, bebendo Saint Remy. Tem o céu que foi testemunha de todas nossas aventuras e aquele que guarda nossos segredos mais secretos e valiosos.

No dia em que nossa jornada neste planeta acabar, será nesse colcha de retalhos que deitaremos, ela será gigante, infinita, do tamanho exato que nossa alma terá. será macia, e proporcionará um sono eterno, em que cada retalho nos levará para algum sonho diferente.

seguimos fotografando e costurando novos retalhos no cobertor de céu.

domingo, 25 de setembro de 2011

Hair









Whenever I dress cool,
My parents put up a fight
And if I’m a hotshot,
Mom will cut hair at night
In the morning I’m sure of my identity
I scream Mom and Dad
Why can't I be who I wanna be?

I just wanna be myself,
And I want you to love me for who I am
I just wanna be myself,
And I want you to know, I am my Hair

[Chorus]

I’ve had enough
This is my prayer
That I’ll die living just as free as my hair

I’ve had enough
This is my prayer
That I’ll die living just as free as my hair

I’ve had enough
I’m not a freak
I must keep fighting to stay cool on the streets

I’ve had enough, enough, enough
And this is my prayer, I swear
I’m as free as my hair

[Lady Gaga - Verse 2]

Sometimes I want to rock on some highlights
Just because
I want my friend to think that I am dynamite
And on party, roxy, high school dance
I got my bangs too hard
That I don't stand a chance
A chance

I just wanna be myself,
And I want you to love me for who I am
I just wanna be myself,
And I want you to know, I am my Hair

sábado, 24 de setembro de 2011

o sinal







No misticismo judaico, o Guf (do hebraico, corpo) é o Hall das Almas, localizado no Sétimo Céu, de onde toda alma humana é proveniente. De acordo com outras lendas que descrevem as almas como pássaros, o Guf às vezes é representado como uma casa de pássaros.

O folclore diz que os pardais podem ver a descida das almas e isto explicaria seu trinado alegre. O Talmud ensina que o Messias não virá até que o Guf esteja completamente vazio. O significado mítico do Guf é que cada pessoa é importante e tem um papel único que só ela pode cumprir.


Mesmo um recém-nascido torna o Messias mais próximo pelo simples fato de ter nascido. De acordo com essa mitologia, chegará o dia em que o Guf estará vazio, os pássaros pararão de cantar e uma criança nascerá morta, sem alma.


Este será o último sinal da chegada do final dos tempos. A idéia original que descreve o Guf como um corpo parece estar ligada à tradição de Adam Kadmon; o
humano primordial.

Um ser superior, andrógino, do tamanho do universo – a intenção original de Deus para a humanidade –, o Adam Kadmon pecou e quando isso aconteceu a humanidade foi demolida em carne e sangue, nas criaturas mortais e bipartidas que somos.

De acordo com a Cabala, cada alma humana é uma fragmento (ou fragmentos) da alma universal de Adam Kadmon. Ou seja, cada alma humana é proveniente do “guf” (corpo) de Adam Kadmon.

Fonte: Idéias Bizarras 33

cápsulas de Kundera

  • "No começo do Gênesis está escrito que Deus criou o homem para reinar sobre os pássaros, os peixes e outros animais. É claro que Gênesis foi escrito por um homem e não por um cavalo. Nada nos garante que Deus desejasse realmente que o homem reinasse sobre as outras criaturas. É mais provável que o homem tenha inventado Deus para santificar o poder que usurpou da vaca e do cavalo. O direito de matar um veado ou uma vaca é a única coisa sobre a qual a humanidade inteira manifesta acordo unânime, mesmo durante as guerras mais sangrentas."
- A Insustentável Leveza do Ser; Sétima parte

  • "Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço. No entanto, mesmo "esboço" não é a palavra certa porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro."

  • "Tomas compreendeu uma coisa. Todo mundo lhe sorria, todo mundo queria que ele escrevesse a retratação, retratando-se faria todo mundo feliz. Uns ficavam contentes porque a proliferação da covardia banalizava suas próprias condutas, devolvendo-lhe a honra perdida. Outros estavam acostumados a ver em sua honra um privilégio particular, do qual não queriam abrir mão. Também nutriam um amor secreto pelos covardes. Sem eles, sua coragem seria um esforço banal e inútil - ninguém a admiraria."

  • "Mas era justamente o fraco que devia ser forte e partir quando o forte fosse fraco demais para poder ofender o fraco."

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

viver de arte

texto lindo sobre arte, futuro, projetos de vida e sonhos, que chegou no momento exato, na hora certa para ser lido e refletido. dedicado a todos os artistas, que muitas vezes se deparam com dolorosas escolhas, vale a pena gastarem alguns minutos com este belo depoimento de Odyr Bernadi. muito obrigado a Pepi Diphuso por me mandar. http://odyr.wordpress.com/2011/09/21/sobre-viver-de-arte/

destino

está ali.

Maria Layout

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cosmic no jornal O Tempo e Mural Graça


link para Caderno Pandora do Jornal O Tempo: http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=179444%2COTE&IdCanal=18

link para Mural Graça Ottoni: http://gracaottoni.com.br/2011/08/cosmic-no-tempo/

Leo


Léo, você sempre disse que eu tinha uma sensibilidade grande para algumas coisas da vida, que sabia colocar em palavras sentimentos, angústias, idéias e coisas que não sabemos nomear de forma bela ou agradável.

Hoje, acordando e constatando que não receberia mais uma ligação sua, que não estaríamos mais juntos, senti vontade de ser uma pedra, uma cadeira, qualquer objeto inanimado e desprovido da capacidade de sentir. Não sentir essa dor, não sentir essa tristeza, não sentir a melancolia, frustração, raiva, e a sua falta.

Mas foi essa mesma capacidade de sentir coisas que deu sentido ao que eu e vc tivemos, ao que construímos, que não ousarei dar nome. Por isso não posso me revoltar contra esses nossos corações e mentes. não há como calá-los, sufocá-los e exigirmos que os mesmos só registrem e processem o que há de bom nessa vida, só os suspiros e sorrisos do amor, só as alegrias. Não como fazer uma triagem do que nos afeta.

Esse post é pra gritar ao mundo duas coisas. pra gritar ao mundo o quanto fui feliz em ter encontrado você em meu caminho, e o quanto é grande a dor de não ter mais você agora. são dois sentimentos imensuráveis, que compartilham o mesmo espaço, que é o meu coração e a minha vida. por 11 meses você foi a pessoa que mais tive contato, que mais tive intimidade e que mais se importou comigo, em todas as formas. seria interminável dizer todas as coisas que sou grato, forte e maduro graças a você. Então é muito sentir essas duas coisas tão contraditórias ao mesmo tempo. alegria e dor. saudade e satisfação, amor e perda.

Então não me resta nada a não ser agradecer, a Deus, a você. eternamente por tudo, cada sorriso, cada puxão de orelha, cada mimo, cada vez que me fez vontade de ser um homem melhor, cada incentivo, cada quilometro percorrido, cada brinde, cada manhã acordada junto, cada conceito reavaliado, cada memória que guardarei comigo como um tesouro. Eu só sei agradecer, mais nada. Eu creio que eu realmente tenha algo especial nessa vida, pra ter tido a sorte de cruzar meu caminho com o seu.

Da mesma forma que haverá de ser especial todas as outras pessoas que você ainda conhecerá nessa existência, mudando pra melhor e trazendo tudo que você tem de lindo nesse coração, nesse sorriso pra essas outras sortudas pessoas. Acrescentando vontade de viver,redefinindo sentidos, valores e marcando momentos como você fez com a minha vida. Espero que algumas dessas pessoas sinta ao menos um décimo da alegria e carinho que senti ao seu lado.

Quando acordei me vi cercado neste quarto por um mundo de coisas, presentes e lembranças suas. em 11 meses você fez parte da minha vida em todos os instantes. o impulso na hora foi de tristeza ao ver o cãozinho de pelúcia, o Born This Way, o cinto, a camiseta e notar que você passou ali, mas não está mais. Guardar sua escova de dentes foi doloroso, pois parecia que ela era de algum metal que pesava toneladas, com sua saliva, seu dna ainda ali. Mas eu pensei que seria inútil tentar apagar, ignorar tudo isso. Quero ser forte e ter sabedoria pra olhar, tocar cada uma dessas lembranças e sorrir, sem esquecer de nada. pelo contrário.

Eu sei que é por causa de tudo vivido nessa história linda, nesse passado que se confunde com um ainda presente, é que poderei continuar construindo um belo futuro. um futuro maravilhoso, inspirado por tudo que você me acrescentou ao seu lado. por isso que é inútil jogar tudo que me lembra você fora. vai ser difícil acostumar e lidar com sua presença nelas. Não posso apagar o que me fez sentir tão vivo, feliz. tudo fez tanto sentido. tudo valeu tanto a pena. Não quero me esquecer de você nunca, Leo. e eu também não quero que você me esqueça.
obrigado por tudo, de quem ainda te ama.

João.
Terça Feira, 20 de setembro de 2011.