quarta-feira, 1 de julho de 2009

fascinante. falso.



Os rituais de dominação e escravização praticados cada vez mais, a arte que mais e mais é devotada a louvar tais temas são, talvez, somente uma extensão lógica da tendência de uma sociedade afluente a transformar todas as partes das vidas das pessoas num gosto, numa escolha; convidá-las a considerar suas próprias vidas como um estilo (de vida). Até agora, em todas as sociedades, o sexo tem sido uma atividade (algo para fazer, sem pensar sobre ele). Mas, quando o sexo se torna um gosto, ele talvez já esteja a caminho de tornar-se uma forma autoconsciente de teatro, que é, afinal de contas, no que consiste o sadomasoquismo: uma forma de gratificação que é tanto violenta quanto indireta, extremamente mental.

O sadomasoquismo sempre foi o aspecto mais extremado da experiência sexual: quando o sexo torna-se o mais puramente sexual, isto é, separado da pessoalidade, dos relacionamentos, do amor. Não deveria ser surpreendente que ele tenha se tornado íntimo com o simbolismo nazista nos últimos anos. Nunca á relação entre mestres e escravos foi tão conscientemente estetizada. Sade teve que inventar seu próprio teatro de punição e gozo a partir do zero, improvisando o cenário, a indumentária e os ritos blasfemos. Agora existe um cenário dominante à disposição de qualquer um. A cor é o preto, o material é o couro, a sedução é a beleza, a justificação é a honestidade, o objetivo é o êxtase, a fantasia é a morte.

( Susan Sontag - Sob o Signo de Saturno - Fascinante Facismo )

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