domingo, 14 de julho de 2013

as caixas



Não existe faxina sem a parte da bagunça, ainda mais pra pessoas que se acostumaram a viver com o caos como eu. o caos cria, na verdade, se a gente prestar atenção em como funciona o universo, perceberá que é o caos que é a lógica. que é através dele que a vida tomou forma. A gente é uma versão micro desse caos macro. é ilusão pensar em ordem, é ilusão tentar organizar a vida. mas a gente tenta e é necessário pra suportar e aprender a viver junto. 

Assim é com as lembranças. Às vezes as deixamos jogadas de lado, com medo de encará-las e ter que lidar com elas, essa difícil tarefa. Temos vontade e medo de tirá-las daquele lugar escuro, daquela caixa de sapatos escondida no ponto mais alto do armário. Temos um certo respeito, pudor e luto por tudo que ficou guardado ali. Respeito. Temos culpa, temos força por ter conseguido alcançar esse estágio. Nos perguntamos todas as madrugadas se não devíamos ter jogado essa caixa fora e nos cobramos uma resposta clara e lógica: Por quê ainda guardamos? Por quê não jogamos fora de uma vez? 

Porque estávamos esperando o dia como esse. Organizar. é impossível relatar o que acontece nesse momento. Uma coisa é fato: Os olhos enxergam melhor. os ouvidos escutam melhor. tudo se torna tão pequeno e tão grande pra aquela caixa ao mesmo tempo. Tudo soa novo e revigorante, mas totalmente reconhecível e seguro. É preciso dar valor em nossas caixas de sapato. São elas que nos fazem pensar, refletir e aceitar as coisas dessa vida, que nem sempre são como sonhamos. São essas pequenas ou grandes caixas que guardam além de ácaros, pedaços da nossa história. São essas caixas que não nos deixam esquecer o que somos, o que foi dito, o que sonhamos, a imagem que criamos de nós mesmos. A caixa de memórias pode ficar anos, décadas intacta. Mas uma vida sem caixas seria muito mais triste e inaceitável. 

Às vezes ficamos dias sem reação após organizar as caixas. Ás vezes ficamos constrangidos e derramamos lágrimas de uma fonte que julgávamos seca. Ás vezes soltamos nossas caixas no mar ou a enterramos em um jardim florido. Ás vezes sentimos que aquela caixa não faz mais sentido e só ocupa espaço e a deixamos numa lixeira do condomínio. Ás vezes descobrimos gavetas secretas em nossos corações para colocar novas caixas para dormir. 

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