domingo, 30 de setembro de 2012

cúmplices

As coisas que mais doem são aquelas que a gente vai deixando. são as que vamos levando, dia após dia. São as coisas não faladas. Se ser sozinho é um fato, que seja a solidão verdadeira, aquela que o silêncio cura e empurra ladeira abaixo. O mesmo não pode ser dito sobre a solidão compartilhada. Eu sinto falta de mim, João. muita, mas muita falta.



To have and not to hold
So hot yet so cold
To love but not to keep
To laugh not to weep



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Outros valores, além do frenesi de consumo

Outros valores, além do frenesi de consumo

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Quando começa a época das chuvas eu me mudo. é como se meu próprio corpo fosse uma espécie de planeta que recebe uma monção ou algo do tipo. Como se o clima acontecesse aqui dentro. eu mudo, eu me torno líquido, minha percepção do mundo flui devagar, e sou tomando por uma espécie de melancolia que não sei explicar. Engraçado, pois eu me lembro que isso acontece desde minha infância. Alguém mais esotérico poderia dizer que sou de Peixes e meu elemento é a água, e assim também posso ficar nublado e com o coração molhado e gelado, como a chuva. não sei. há um olho dágua, há uma nascente que brota a partir de setembro.não digo que sempre fico mais triste, mas digo que sempre tenho ganas de ir com a enxurrada, como nas estórias de jabutis e tartarugas que apareciam nas portões das pessoas, trazidos pelas correntezas na rua. Meu corpo pesa e me sinto mais lento, pesado. Então eu não sei se odeio o clima chuvoso ou se sou um dependente do sol. há dois hemisférios no meu coração. metade do ano ele é ensolarado e outra ele é chuvoso. Tenho medo das enxurradas, tenho medo do que elas levam embora para sempre. Ás vezes ela leva só alguns barcos de papel, ás vezes ela leva as chaves de casa.



e obviamente, é quando chove que me movo a escrever mais aqui. as palavras também caem do céu.

café começa


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Reinventar o amor


Pra reinventar o amor você precisa de dois corpos, um punhado bem generoso de solidão, uma tonelada de self. misturar tudo com o máximo de emoções novas que seu corpo e self aspiram. separar o racional do emocional e deixe o tempo agir. em uma peneira separe o inviável e em outra tigela coloque os brotos que vão nascer dessa mistura. guarde os brotos, faça mudas diariamente deles. espalhe na terra, em frente à sua janela. Se esqueça de tudo. arranque seus olhos e troque por olhos de peixe. doe seu corpo à alguém estranho. escreva tudo que sonho durante esses dias e faça um desenho do texto. essa é a imagem e forma do seu novo amor.

sábado, 22 de setembro de 2012

Nomes para o meu cachorro ( ou meus filhos )




Esse post é pra eu não esquecer dos nomes que aparecem na minha cabeça e os quais darei aos meus cachorros que ainda não tenho. Sempre surge algum nome incrível na cabeça enquanto caminho na rua ou tomo banho, mas esses nomes se perdem. Quando tiver novos nomes, virei aqui atualizar o post. Talvez esses nomes possam ser usados nos filhos que ainda terei também.

Macho / menino

Sirius
Aldebarã
Vega
Daft
Kepler
Calipso
Punk
Andy
Martiello
Luc
Cuin
Sprite
Pepi
Petit
Amado
Clark
Bruce
Bono
Pogo
Kuki
Lupin
Zuzu



Fêmea / menina

Tininha
Glória
Kiki
Gaga
Galatea
Aurora
Lili
Clementine
Gigi
Luma
Lua
Luna
Karenin
Pink
Josephine
Yoko
Linda
Penny
Donna
Emma
Danna
Hanna
Zuzu
Madras


instrução para dormir


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Para ler mais instruções de Yoko Ono do seu Grapefruit, clique aqui




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memories






Lembrança dos cabelos

Me lembrei das tardes de sábado que meu pai me levava com meu irmão para cortar o cabelo, cruzando a cidade. Era uma rua grande, com muitas e belas árvores. Eu e meu irmão vivíamos um tempo em que nossos cabelos estavam sempre da mesma altura e com o mesmo corte. E isso se repetia por vários anos. A rua ainda existe com poucas árvores agora. Meu pai conversava com o dono do salão enquanto eu lia revistas enquanto espera minha vez. E eu acho que o salão ainda permanece lá, sem meu pai, sem meu irmão e sem mim. E isso não importa para as árvores dessa rua. Meus cabelos e os cabelos do meu irmão não crescem mais juntos também. Ele usa da forma como ele quer e eu deixo o meu como eu quero também.

Lembrança das gelatinas

Me lembrei de noites quentes em que minha mãe preparava gelatinas pra mim e meu irmão. Éramos bem pobres e era raro comer gelatina, coisa rara pra gente. Lembro das primeiras vezes em que ela fazia gelatinas e da minha ansiedade em provar logo. Eu ia de minuto em minuto abrir a geladeira para conferir se ela já não estava mais líquida,  pois queria comer logo as gelatinas. Minha dizia que deveria ter paciência e esperar, pois gelatinas só tomam forma de gelatina após horas, e como era noite, só poderia comer a gelatina na manhã seguinte. Era feliz o dia que ela fazia isso. Hoje fiz gelatinas, uma tem cor azul, que não existia no meu tempo de criança. As gelatinas estão na geladeira e só poderão ser comidas amanhã cedo e eu não ficarei mais ansioso por esperar. Também não sei se terei alguém amanhã para dividir as gelatinas.


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Assim: olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.

zed martins

domingo, 16 de setembro de 2012

Muda de avenca





Para uma avenca partindo - Caio Fernando Abreu

Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viveras superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualqueratraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um diadestes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.

domingo, 9 de setembro de 2012

Neste exato momento, Domingo, no dia 09 de setembro de 2012, às 22 horas e 51 minutos, uma lagarta se pendura de cabeça pra baixo, enrijece seu pesado corpo e começa a se transformar em uma crisálida. A chuva acabou de cair, e respingam gotas por todas as folhas verdes escuras.

Neste exato momento um casal liga o ventilador e se refresca após minutos de sexo tórrido. o ar é quente e o suor escorre por suas testas, um deles tenta criar coragem para tomar banho, o outro não sabe se prefere comer algo na cozinha ou tomar um copo de água gelada. ambos respiram ofegantes.


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

P.H.E.R.V.O.!



Eu sentia saudade de uma festa realmente boa, com meus amigos. Achava tudo um saco, uma bobagem. A noite estava ficando chata, com afetações, muitas aspirantes à divas e pouca coisa realmente interessante. Bom, eu pensei, o que fazer? Então, pronto, se tô achando tudo um saco, vou criar a minha! do jeito que eu quero, com as coisas que eu gosto! E assim foi, já na quarta edição! 
Vamos virar o Disco novamente? Espero vocês aqui


Tenho o prazer de convidar todos os artistas de Belo Horizonte para participarem do concurso Velvet Art, promovido pela casa noturna de mesmo nome que trabalho! De curadoria minha e Fernando Fidelis, incentivamos a criação, experimentação e a criatividade. do electro ao pop, do indie ao rock, arte e vida noturna é uma mistura que sempre funciona bem! Mande sua proposta em qualquer linguagem pro email velvetclub.art@gmail.com até o dia 26 de setembro! Sua arte pode virar um dos cartões postais do kit que iremos produzir. Queremos criar um ambiente de trocas e conexões com música, desenho, pintura, fotografia e demais formas de expressão! E ainda teremos uma super festa de lançamento do projeto dia 06 de outubro! todas as infos para participar vocês encontram aqui!

p.s. O foco inicial deste projeto são os artistas de Belo Horizonte, mas não excluímos proponentes de fora daqui também! Podem participar, até porque temos outras ações planejadas além dos kits de postais! Todas sugestões são bem vindas também! vamos utilizar a estrutura do Velvet Club pra promover essas e mais práticas artísticas!