No dia 3 de outubro, por volta de 13 horas mais ou menos, saía de minha casa atrasado para meu trabalho, estava observando as pequenas samambaias que crescem naqueles buracos da calçada, quando acho um pequeno pires. inteiro, branco, o peguei e levei comigo, pois agora coleciono pires e xícaras. na mesma hora, passa de carro a Clarice, - Claclá, colega da minha graduação, que buzinou e me cumprimentou, sorrindo muito do carro. pensei: Como a Clarice é da escola de artes como eu não haveria de ter estranhado me ver catando lixo pois é normal que a gente daquela escola encontre coisas legais no caminho e leve pra transformar em outra coisa. talvez um sinal de que nosso olhar ainda não está tão cansado. Levei o pires comigo e comecei a pensar nessa coleção de xícaras que comecei. Sim, as quero muito agora. Não sei o que farei com as xícaras que juntarei. Às vezes penso que virarão uma instalação, às vezes componho desenhos e colagens com o que a xícara representa. E o que a xícara representa? Primeiramente a paz que procuro, é claro. Obviamente tudo isso que falo é algo lúdico. Não consigo imaginar maior momento de paz do que aquele em me sento para tomar meu chá. Eu acho o máximo quando Lady Gaga sai por aí com suas xícaras. A xícara é o lar que eu terei. é a família. é a paz que procuro. É aquela pausa no tempo, é a apreciação do tempo. Com uma música bem bonita e no volume baixo, sozinho ou com alguém querido. Não posso tomar um chá quando quiser, mas na hora apropriada. no momento perfeito. Eu quero xícaras bonitas, vintage, antigas, raras, exóticas. xícaras com cara de vovó. não quero um mini antiquário, mas reinventar histórias, quero plantar dentro delas, como já faço. quero conversar com cada uma. Na Savassi, onde trabalho, há vários antiquários com xícaras que não posso comprar. são as mais lindas, as mais caras. Daí eu penso que talvez uma ou outra por mês, eu possa comprar abrindo mão de alguma coisa ou outra. dá pra fazer. Enquanto seguia pro meu trabalho com o pires novo, lembrei da primeira xícara dessa coleção. Uma pequena, com desenhos de rosas que ganhei em Diamantina de uma senhora bem humilde que não me lembro o nome. Estávamos no bairro da Palha, região bem carente da cidade e eu precisava de uma xícara meio antiga pra fazer uma fotografia e não achava pra comprar nos mercadinhos do bairro. Então fui pedindo nas portas das residências e essa senhora foi a primeira a me ajudar, chamando pra entrar na sua humilde casa. uma casa tão simples, mas tão bonita, tão aconchegante e bem cuidada. decorada. que paz gostosa tinha ali. Eu deveria ter uns 30 reais na carteira esse dia e perguntei à ela, se ela aceitaria esse valor que eu tinha pra poder me vender uma xícara do seu conjunto. Ela se recusava, e dizia que eu poderia levar sem pagar nada e eu insistia. Eu, um estranho, estava ali com ela, sozinho na sua cozinha pedindo uma das suas xícaras de estimação. Era claro pra mim que havia paz ali. que seja por segundos, e como eu me senti bem alie feliz por absolutamente nada além da experiência da xícara. Essa xícara hoje está comigo, na minha janela, com suculentas plantadas dentro. Eu não me lembro o nome dessa querida mulher, mas desejo o melhor na sua vida e agradeço pela paz e alegria que a senhora me deu através do mais banal dos gestos. Foi assim, catando um pires na rua, que fiquei lembrando da senhora durante o dia, e com saudade de ficar na sua cozinha, assim como eu tenho de sentar e tomar um chá ou um café com meus pais. Obrigado por me resgatar essas lembranças e me recordar dessas possibilidades reais de paz e alegria no peito.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
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Um comentário:
Impossível vir aqui e não derramar uma lagrima =,]
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