domingo, 22 de abril de 2012

O desconforto / o prazer

Espero você se distrair pra olhar pro seu rosto, pro seu corpo. sem que você note, decoro seu modo de caminhar, e releio todas suas mensagens, e investigo cada uma das suas expressões. Relaciono cada uma delas com um sonho, em três tempos: passado, presente e futuro. cada tempo carrega um sonho, e cada sonho carrega um tipo de memória. cada memória carrega uma imagem sua. Tento ser racional e redescobrir as cores que a saudade assumiu nesse tempo. Mas falho, falho, falho. há muitas cores, cores que não foram descobertas e nomeadas.

cada cor tem um sentimento e cada sentimento é um braço que me sustenta e me arrasta, nu, em direção ao oceano Atlântico. eu sinto frio, e respiração é ofegante, mas ao mesmo tempo o corpo está leve, flutuando quase. Fazia muito tempo que não me sentia assim. uma sinfonia ensurdecedora teve seu fim. e agora resta o silêncio, enquanto caem as primeiras gotas de chuva. rasgo cartas que escrevi, dentro de envelopes já selados e lacrados, e tudo vai junto comigo em direção ao oceano.

assumo pra mim e pra você em algum sonho destes serei seu herói. que vou te salvar desta vez. que vou ter braços fortes e musculosos pra te segurar. pra te apertar. pra intimidar seus inimigos e os monstros que você tem medo. Crio condições e planos para isso. neste espaço eu sou seu porto seguro e nada vai tirar você de mim. te abraço até você dormir, e ouvir seu suave ronco. depois disso, volto a ser pássaro. pequeno, curioso, frágil, e sem saber o que fazer. um pássaro que morre de medo do silêncio e começa a gritar, falar, com seus iguais, com aquele desespero que vocês interpretam como cantoria singela e agradável quando despertam nas suas lindas manhãs de sol. mas vocês acordam sorrindo, e isso nos importa.  

olho seu retrato e não sei mais se é dia ou noite. se sou seu herói, ou se sou o pássaro que foge. 


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