domingo, 11 de março de 2012

amanhã


Quando acordar amanhã cedo, estarei feliz pelo fato de Deus me ter transformado em um passarinho. um pardalzinho, pra dizer a verdade. Qual é tempo de vida de um pardal? um ano? dez anos? Estarei enfim, livre deste corpo. mas não totalmente livre da minha alma e meus afetos. eu não quero ser transformado um pardalzinho com a consciência de um pardal, mas sim trocar de corpo. Continuarei sendo o João, mas pequeno e com penas cinzas com notas azuladas. Eu até já sei onde será minha nova casa, numa pequena caverna de galhos que se formou no meu jardim, onde um casal de pombos botou ovo no carnaval. no jardim que estou cuidando agora, depois de muitos anos de vontade. Eu quero visitar tanta gente, tantas janelas. tomar banho nos bebedouros, bicar mamão maduro, bicar goiaba vermelha. Quero ser um pardalzinho anônimo, vira lata, que nem sabe cantar direito, mas fica fazendo algazarra quando o dia amanhece. Quero ser um pardalzinho como aqueles que me recebiam quando o sol raiava nas minhas voltas da balada, meio cambaleante, meio apaixonado, sempre melancólico. Lembro de todas as árvores da minha vida, da minha infância, por todos lugares onde passei. Quando eu já tiver sido transformado em passarinho visitarei todas novamente, pousarei em cada uma.

assim como visitarei você, numa tarde quente. estarei na sua janela, me refrescando em uma sombra fresca e observando você em mais um dia comum da sua vida. talvez eu ouse cantar algo, talvez eu fique só olhando mesmo. Eu, ali, sou só um pardalzinho ordinário, que alguns chamam de sujo, pestilento, praga urbana. um rato que voa, te olhando, e sorrindo pra você. sempre quis ser um pardal, um bichinho tão bonito, tão forte e tão rápido. lembro que quando era criança, nas pouquíssimas vezes que conseguia capturar algum pardal com nossas arapucas, ele jamais se adaptava nas gaiolas. simplesmente parava de cantar e um dia morria. não fazíamos idéia do que o pardal podia comer. ele nos intimidava, de certa forma.

Faz muito tempo que não me lembro de prestar atenção e acordar com os pardaizinhos. eu sinto falta da sua algazarra, assim como sinto falta de ficar sentado embaixo de uma árvore. por isso é que visitarei você, já como um pardalzinho. orgulhoso e feliz por ser agora tão pequeno, tão anônimo, tão bonito e tão solto. não vejo a hora de pousar na sua janela e ficar ali horas e horas.

sem medo, sem preocupações, sem tristeza. pois você jamais saberá que aquele pardal sou eu.

e enquanto viver, eu, o pardalzinho, estarei velando e protegendo você.

Qual o tempo de vida de um pardalzinho?

2 comentários:

Leo disse...

Eu juro que é verdade:

Hoje de manhã acordei com um pardalzinho que entrou na minha janela e ficou preso dentro do quarto. Acordei com ele andando no meu edredon. Não me assustei, apesar das batidas de asas e da algazarra que ele fez. Não conseguia sair do quarto, pois as cortinas estavam fechadas. Provavelmente ele pousou no parapeito e passou por baixo da cortina, sem saber que não conseguiria fazer o mesmo para sair.
Achei bonitinho, mas sabia que se o prendesse no quarto, certamente morreria.Por isso, com um certo pesar, levantei-me abri a cortina e deixei que ele voasse para fora do meu quarto, para que pudesse voltar a sua vida de vira-lata feliz!
Mas, no fundo, queria poder mantê-lo no quarto. Janela aberta, certo de que voltaria sempre que quisesse.

Essa história é 100% real e uma grande coincidência...

BlogdaJezuita disse...

sendo um pardalzinho tomara que seja um dos que me faz companhia toda as manhãs,as vezes jogo pedaços de pão e eles os carrega as vezes faz caquinha na mesa de café da manhã e na pia da cozinha e eu nunca fico brava fico admirando e questionando porque a verdadeira beleza está nas pequenas coisas?