segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

avenida afonso pena, 1626



















pelo teto de cada dia. pela paz. pelo incômodo.pelas eternas diferenças. pelo cheiro de café delicioso que só o Fernando sabia fazer.pelo Bruno. pela Nice. pelas reações desproporcionais. pelo tom de voz exagerado.pela paisagem de dia. pela paisagem de noite. pelo meu vizinho datilógrafo da madrugada.pelo ventilador que me refresca nas noites de calor. pelos convites de jantar. pelas cortinas que me acordavam com sua dança anunciando chuva.pelos sonhos.pelos pesadelos.pelo desconforto.pela honestidade.pelos constrangimentos.pelas instalações hidráulicas que nunca funcionam.pelas faxinas em pleno sábado à noite. pelos discursos ultrapassados e moralistas.pela preocupação.pelo barulho do elevador anunciando a esperada visita.pelo amor de cada dia.pelo amor que comigo dormia.pela minha eterna bagunça.pela eterna ordem.pelo antiquário.pela sala do Louvre. pelos palavrões. pelo capricho. pelo óleo de peroba. pela mesa dos anos 40 intocável. pelo pássaro morto desenhado na parede. pelos bilhetes de amor escondidos. pela notícia trágica recebida aqui. pela notícia que me deixou em lágrimas de tão feliz. pelo vômito na privada. pelas ressacas. pela farmacinha na caixa metálica de biscoitos franceses. pelos pinguins de porcelana. pela muvuca. pelas violetas. pelas minhas serigrafias espalhadas pelo quarto. pelo sonho que eu tive. pelos braços em que eu acordei. pelas tristezas, pelas infinitas lágrimas. pela janela quebrada. pelo gemido abafado. pelo silêncio no trajeto ao banheiro. pela decoração que não tem um dedo meu. pelo cheiro de amaciante. pela essência barata de maçã. pela banheira nunca usada. pelo assoalho arranhado. pelo sofá da sala. pela geladeira. pela panela do Miojo. pelos cheiros e perfumes que ainda ficaram. pelos tufos de pêlos. pelas imagens do Sagrado Coração de Jesus e Maria. pelo globo espelhado no teto. pelos desenhos colados na parede. pelos xingamentos. pelos boletos. pelo cheiro de queimado da ducha antiga. pelo bilhete da verdade. pelas malas que chegaram, pelas malas que irão. pelas toalhas à espera. pelos livros e revistas. pelas tardes quentes de sol, pelas noites frias de chuva. pelas histórias, pelos amores, sempre os amores. pelas tentativas frustradas. pelas plantas que morreram. pela criança que abriu a porta e me assustou. pela sua mãezinha de 90 anos. pela minha mãe nessa cozinha. pelo amigo que mora longe e pernoitou aqui. pelo canto onde o carro ficava estacionado. pela manhã. pelo caos da feira hippie. pelas encomendas da portaria. pelo emaranhado de fios. pela cara de choque das visitas. pelo gosto duvidoso. pelo carinho em cuidar. pela solidão. pela fuga. pela incerteza do futuro. pelas noites com fome e sem comida. pela vontade de sumir. pela dúvida. pelo banheiro-biblioteca. pelos azulejos azuis. pelo chá de madrugada. pelas cuecas esquecidas. pelas cuecas emprestadas. pelos fios de barba na pia. pela Haus of Chibi Gaga. pelos beijos. pelas histórias. pela acomodação. pelo esconderijo e isolamento. pelos raros mas agradáveis jantares. pelos desabafos. pelo respeito. pela implicância. pela mesquinharia. pela generosidade. pelo poster do Marlon Brando belo e jovem. pelo poster de Cisne Negro. pelo colchão emprestado. pelo colchão na parede. pelo colchão no chão. pelo barulho insuportável da descarga ao lado da minha parede. pelas cervejas na geladeira. pelas ocasiões especiais. pelo som que a lata de cerveja fazia quando era aberta. pelo agradecimento. pela hora que me tirava daqui. pela hora que me trazia pra cá. pelo interfone. pela síndica imbecil. pelas flores de plástico do jardim fake na portaria. pelos vizinhos idosos. pelos valores questionáveis dos vizinhos idosos. pelo meu vizinho Leandro. pelo meu vizinho Jacques. pelo chocolate. pela janela que fazia questão de mostrar a todos. pelas aulas de música barroca. pelos momentos de depressão. pelos orgasmos. pelo abismo do meu quarto. pelo cheiro de manjericão. pelo cheiro de tinta para tecido. pelo cheiro de cada corpo e suor. pelas pessoas que nunca vieram aqui. pelo medo de vocês por ela. pelo hálito gostoso. pela insustentável leveza do ser. pelo guia dos curiosos. pela porta avariada. pelas confissões da lésbica. pela solidão do outro. pelos domingos intermináveis. pelo sumiço das sacolas plásticas. pelo ar quente que emanava da gente dentro do meu cobertor. pelo Malletta. pelo Palácio das Artes. por todas as primeiras vezes. por todas as últimas vezes. pela humildade. pela incoerência. pela minha falta de paciência. pelas revistas jogadas fora. pelo barulho da cama. pelos retratos antigos de pessoas mortas. pelos roncos. pelas histórias de fantasmas. pela divisão de tudo. pelo centavo faltando. pela chance de não ter a mínima certeza que dará certo. pelo vazio no peito. pelo barulho quando deveria haver silêncio. pelo silêncio quando deveria haver barulho. pelos três. pelos momentos de pura felicidade. pelos momentos de pura raiva. pelos momentos de pura dor. pela imprevisibilidade. pela rotina. por poder voltar pra casa depois da viagem. pelos dois anos. pelo céu. pelo anil. pelas nuvens, pelas constelações. por ter sido tudo verdade.

como diria meu querido amigo Alessandro: "E no final, tudo se encaixa". literalmente ou não.

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