sexta-feira, 20 de maio de 2011

Madre Monster, Mater Dulcissima

Tirei uma semana fora de Belo Horizonte para rever minha família, o que não fazia desde janeiro. Me propus a visitá-los mais vezes este ano, e ainda não é esta freqüência que gostaria que fosse. De todo modo, incomodado ou inspirado por um desejo que me persegue já faz algum tempo, revisitei lugares. escolas, ruas, pracinhas, igrejas que tiveram uma relevância muito pessoal e forte na minha vida, que não via à uns 8 anos.. e como tudo muda e ao mesmo tempo mantém uma essência eterna. é muito paradoxo. é estranho essa coisa, o tempo na nossa memória e coração.

Estou angustiado, engasgado e com vontade de chorar escondido por não entender o que realmente todas essas coisas significam pra mim a partir de agora. muitas vezes em Belo Horizonte me peguei fuçando sites, perfis em redes sociais de ex colegas do colégio por curiosidade, é claro, mas também por uma força de tentar resgatar e lembrar que eu também tenho uma história pra lembrar. o que fui, como foi, de onde vim. Tenho medo do futuro, tenho medo da solidão, como qualquer ser humano. tenho medo da morte, de perder as pessoas que amo, por mais que saiba que isso vai acontecer. me senti relaxado voltando a respirar o ar da minha terra, a estrada, o capim. de volta.

não vou ser hipócrita de dizer que tenho saudade de uma ou outra pessoa dessa época. mas tenho saudade de um tempo em que acreditava que viveria para sempre. que não sentia o tempo passar. eu sei, estou escrevendo assim porque me sinto velho, mas não vou negar. amanhã é o meu último dia aqui em Unaí, e me sinto devastado, com o coração angustiado, e muito, muito fraco diante de um ciclone de sentimentos antagônicos que me cerca. não estou triste por algum episódio específico, mas temeroso pelas mudanças drásticas que eu sinto que virão a partir de agora e que vão afetar a todos que amo.

Tenho o orgulho de dizer que nasci numa família privilegiada. não por ter dinheiro, fama ou reconhecimento profissional. mas por serem as pessoas mais puras que eu já conheci em toda a minha vida, não por serem meus pais. todos estudaram até a quarta série, mas são os dois mais modernos e de mente aberta que eu conheço. não pensem que falo isso agora querendo pagar de família de comercial de margarina, pois estamos longe disso como família. somos mais família Adams com família Buscapé, digamos assim. já brigamos muito, e feio. já nos machucamos, já erramos muito neste processo. já deixamos tristezas e feridas um ao outro. hoje refletimos. e pensamos no quanto é pior viver sem o outro.

Desde que saí de casa, minha mãe ficou mais murcha. como uma flor. A minha mãe, talvez o que mais me fascina nela, é essa capacidade que ela tem de ser tão forte, e tão frágil ao mesmo tempo. já me choquei com a capacidade dela de encarar crises e problemas assustadores de frente, de aceitar e superar desafios que a maioria das pessoas não aguentaria e com uma bravura que eu tenho certeza que não teria. Mas agora, meus irmãos também cresceram. ela não tem curso superior, profissão, e como passou a sua vida inteira só cuidando dos outros, da gente, filhos, sobrinhos, primos, avós, agora ela não sabe o que fazer com ela. ela não sabe se ver como mulher, pois só aprendeu a ser e se ver como mãe. como cuidadora. como cuidar dela? quem vai cuidar dela? como posso fazer algo pra que ela não murche mais? como lidar com esse olhar triste? me sinto patético, um fracassado por não saber o que fazer.

é estranho ter toda a generosidade e amor do mundo disponíveis pra você tão longe. não que em BH não tenha, mas o amor de mãe é sempre incondicional e diferente, pelo menos no meu caso eu posso falar. Não consigo imaginar outra imagem que não seja a Pietá, a virgem pra ilustrar a melancolia e amor transcendental que vejo em minha mãe. tão frágil agora, tão pequena. tanto carinho e amor aqui, e lá fora, quando voltar depois de amanhã tanta falsidade, tanta guerra, tanta cobrança, tanto individualismo, tanta competição e principalmente tão pouca generosidade. passei 7 anos suportando e levando todos os golpes do estilo de vida que escolhi, e sempre soube que não seria fácil. várias vitórias, vários tropeços, feridas. ainda há caminho demais pra se percorrer. Queria me sentir mais forte agora e proteger alguém.

eu sei que quando despedir, ela chorará. como sempre.

Eu queria ficar. mas não posso. e isso não está certo.


Nenhum comentário: