Bom, vou começar esse post sobre Técnicas de Desenho falando sobre algumas questões gráficas sobre fazer um desenho a mão livre ( nanquim, grafite, etc) ou vetorizado. Antes de mais nada é bom deixar claro que não se trata aqui de fazer um estudo aprofundado nem ser algum tipo de tutorial. Não me acho capacitado para tanto, nem interessado. Vamos imaginar que se trata de um bate papo informal e desde já contribuições nos comentários são bem vindas.
Primeiramente é bom falar dos pontos positivos e alguns talvez negativos de cada uma dessas escolhas, se tratando de desenhos que primam pela linha, por um traço definido e marcado, pra artistas que fazem trabalhos em e com referencias nas histórias em quadrinhos, principalmente.
No fim das contas, tudo é uma coisa só, pois tudo é feito à mão e merece capricho e dedicação, mas vamos falar de acabamento e apresentação.
Vetor: pontos positivos :
- leveza. Quando você transforma sua arte em um arquivo de vetor, ela fica absurdamente leve, sendo mais tranqüilo de guardá-la e processá-la na sua máquina.
- Ampliação infinita. Como os vetores trabalham com cálculos você pode esticar sua imagem até onde puder. Além de poder aplicar milhões de cores e efeitos diferentes com apenas poucos cliques pra N versões do seu trabalho, você pode explorar essa qualidade do vetor para pensar trabalhos em grandes dimensões como a fantástica e veterana artista Regina Silveira, que toma conta de enormes espaços com figuras fabulosas, criando ambientes de contemplação e intimidação artística. Vinil de recorte sempre é feito a partir de vetor, é um recurso muito interessante a ser explorado.
- Aplicação. O vetor possibilita um transito da sua imagem por milhares de plataformas e suportes. Além do vinil de recorte, você pode trabalhar fazendo ilustrações para áreas do Design e publicidade, que geralmente solicitam tudo vetorizado, para ser aplicado em embalagens, plotters, outdoors, sacolas, caixas... não há risco da imagem ficar em baixa resolução.
- limpeza e uniformidade. O vetor tem essa característica que eu chamo de “industrial”. Plástica, limpa, sintética, sem ruídos ou gestos. Se seu estilo se pautar por essas características e você ter bom senso e criatividade, pode criar coisas fantásticas. Os pontos negativos como qualquer outro recurso tecnológico são quando você simplesmente usa os recursos por usar, pela necessidade de dominar as técnicas, mas não as usa a seu favor, ficando escravo dos tutoriais e tendências. Falarei disso logo mais, mas basicamente é que como qualquer técnica , os trabalhos em vetor correm o risco de ficar todos com a mesma cara, quando não há questionamento e pesquisa de temas, referencias e principalmente, experimentação.
HandMade : Pontos positivos ( tentarei não puxar tanto a sardinha pro meu lado )
- Expressividade. Um desenho bem feito à nanquim e à lápis têm um peso, uma carga visceral marcante do artista, isso é inegável.
- Variedade de texturas. Quando se trabalha com grafite, carvão, nanquim, você tem acesso a um monte de padrões e texturas, que podem se combinar e criar massas, superfícies de diversos pesos, que seriam um tanto complexas de fazer em vetor.
- Esboço. Nunca ouvi falar em quem esboçasse diretamente no computador. Mesmo que seu trabalho seja todo vetorizado, é no papel, rabiscando, sujando que você pode planejar melhor e com mais liberdade seu projeto. Um recurso que considero meio termo disso são as tablet, que não tenho taaanta intimidade, mas elas são um recurso interessante que conjuga bem características estéticas da limpeza do vetor e dos ruídos de um desenho feito à mão livre.
-Peso. Desenhos à mão livre geralmente tem um peso maior. No sentido de firmeza e presença do modelado, quando se trabalha sombras e volumes.
- Acaso. Particularmente acho que no papel tenho muito mais liberdade e domínio que usando o Corel ou o Illustrator, na verdade, meu vetor é bem verdinho. Não tenho essa manha que muitos usam facinho. Então quando estou desenhando e coisas não saem como planejado, já tenho meus truques para não perder o trabalho, com recorte, sobreposições, manchas, hachuras..não tem CTRL + Z, mas tem outros recursos. Algo que não parece muito comum em programas de vetor, então desenhando e errando quando você não pode apagar, surgem situações em que você é obrigado a lidar e incorporar o acaso, e a ter um traço mais confiante, ousado.o grande pintor modernista Guingard obrigava seus alunos a desenharem com lápis ultra duros com final H. bem secos, e sem borracha para eles pensarem bem o que estão fazendo, além de fazer, simplesmente. É o tipo de limitação e intimidação que faz bem, creio.
Bom, nenhuma técnica é superior a outra. Você tem que se situar como artista e tentar entender qual delas se adapta melhor ao cenário e meio que você pretende trabalhar e vender sua arte. E é claro que elas se misturam. Meu traço muitas vezes é confundido com vetor, em boa parte pela herança das histórias em quadrinhos que fazia pros fanzines que produzi no passado. Desenhar mangá e com referencias de comics americanos me deu uma firmeza interessante sobre o grafite e nanquim, o que também gerou críticas por alguns professores e colegas na graduação, que achavam aquele traço com cara de mangá algo pobre, viciado, duro, sem expressão e sem cara de arte de galeria. Faz sentido sim, mas hoje sei que assumi isso, e a idéia é justamente misturar as facções e criar algo sem tanto rótulo. É claro que o quadrinho ali da banca, feito industrialmente pra ser consumido em massa não é arte, no sentido de arte institucionalizada, mas pegar tudo misturar e ver o que sai, é algo que gosto e tenho tentado constituir em minha pesquisa autoral baseada nessas culturas.
O fato é que o desenho de Hqs é feito à mão, mas retrabalhado com softwares de finalização, que o deixam limpo, praticamente com cara de vetor. Não posso falar desses programas, pois nunca os usei, mas sei que são muito interessantes e proveitosos, tenho vontade de conhece-los mais. Muitas vezes já cheguei ao ponto de vetorizar uma imagem, exportá-la pro Photoshop, imprimi-la, e digitaliza-la novamente, só pra conseguir as texturas e efeitos que quero. Sou sujo e limpo ao mesmo tempo!
Trabalhos em vetor sempre existiram e jamais vão tomar o espaço dos desenhos tradicionais. Nos últimos anos, com o BOOM dos cursos de Design e a facilidade no acesso dos softwares como Corel Draw e Adobe Illustrator fizeram com que houvesse uma certa banalização do vetor, todo mundo passou a achar que só basta saber vetorizar e pronto. Pipocam tutoriais de como vetorizar lindas mulheres sensuais, carrões potentes, a modinha das silhuetas e splashs..enfim, nada que você já não tenha visto em milhares de flyers por aí. O que eu penso sobre isso: fazer o que todo mundo faz, não é interessante, só por fazer. Tendências vem e vão embora, e você fica com um portfólio ultra datado, sem personalidade e vida. Obvio que uma ou outra tendência você vai absorver, mas o que mais tenho visto são trabalhos, especialmente de Designers que se pautam no que está sendo publicado nos sites referencia e revistas como a Zupi, por exemplo. Sempre falo que o Photoshop e qualquer outro programa de Desenho e Edição de imagens é uma ferramenta qualquer, como pincel, lápis, etc. Você é que tem que mostrar domínio sobre eles. É tão boring você ver trabalhos que tem a cara que foram feitos no programa X. que escancaram os filtros e efeitos daquele programa Y. Acho que essa insegurança em saber usar e não criar, é que pasteuriza boa parte dos trabalhos.
( Desenhos do banco de vetores grátis http://resources.bloguite.com )
Da mesma forma que é bem irritante ver estudantes de Artes pláticas achando um desenho só por ser rabiscado, com cara de livro, moleskine, bem sujo, e com todo o pomposé croqui garantem um bom e interessante trabalho. Me cansei de ver caderninhos rabiscados de gente sentada no ônibus, de mendigos, de plantas e objetos, mas que não dizem nada. Repito, não importa o tema ou técnica usada somente, mas a conjugação dos dois! Estudo é uma coisa, trabalho apresentado é outra!
É cair na mesma armadilha dos que acham que computador faz tudo. É preciso pensar gente, escolher bem seus temas, pesquisar, testar e principalmente ser honesto com você mesmo. Não ser tão ingênuo, pois sempre haverá alguém melhor que você, mas se você apresenta de forma organizada, sincera e harmoniosa ( ou propositalmente caótica ) suas idéias e símbolos, é o que importa ). Há muito mais o que falar sobre isso, mas podemos continuar nos comentários, com os pontos de vista de vocês. Pra encerrar o post, acho digno deixar imagens de artistas que trabalham magnificamente com vetor, mostrando que quando se tem domínio das suas idéias , as coisas deixam de ser pasteurizadas e se tornam imagens divertidas e cheias de frescor!
Jared J3Concepts ( USA )
site: http://www.jthreeconcepts.com
Adi. Belldandies ( USA )
http://belldandies.deviantart.com/
3 comentários:
Meauuuu!
Hahahaha!
Tá. Mas aula particular não rola?
Saudades tuas, guri e desse teu imenso, montruoso, ginormical talento!
Hugzão!
Também acho que prática e, sobretudo, experimentação são o que realmente conta na hora de se produzir algo visual (embora confesse que não leve qualquer jeito com programas de vetorização). Corro atrás pra dominar o Corel ou mesmo aprender o já cultuado Illustrator, mas me sinto muito mais à vontade rabiscando papéis com uma Bic encontrada casualmente na mochila. Preguiça? Comodismo? Ainda não defini ao certo.
Anyway, quanto ao fato de que muitos artistas de galeria (alguns professores, inclusive) consideram arte de HQs (ou mais xiitamente ainda, de mangás) duras e inexpressivas e comerciais demais; muito pessoalmente acho que é mais por antipatia mesmo. Como aquela antipatiazinha que sentimos por algo "hype" demais...
Não dá pra negar a influência das HQs na arte nas útimas décadas. Aliás, não dá pra negar a evolução delas nas últimas décadas. Pra citar nomes de artistas que não se prendem naquele desenho convencional podemos citar o (ídolo! ídolo!) Dave McKean, Frank Miller (embora eu não goste dele), Stuart Immonen (o trabalho dele sem traços, apenas com manchas coloridas de luz e sombra em "Superman: identidade secreta" é lindo) ou mesmo as garotas do CLAMP (nunca sei qual delas desenha) ou o Hiroaki Samura (me avisa se eu estiver falando merda, ok?).
(...)
Enfim, às vezes me pego acreditando naquela teoria de que muitos artistas fazem a egípcia pras novas possibilidades com medo de que a arte perca seu status estabelecido (a assimilação das Artes visuais pela Cultura visual, por exemplo), mas isso já é outra história... acabei me empolgando aqui.
Apesar de ser declaradamente mais chegado no "Hand made" sei que se quiser trabalhar (e não digo apenas no que diz respeito às possibilidades artísticas) terei que ter, pelo menos, uma noção de vetorização. Às vezes, na falta de vontade, o mundo te obriga a aprender algo novo.
(sim, eu me empolguei!)
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