quinta-feira, 3 de setembro de 2009
vaidade
Já faz algum tempo, diria que uns 4 anos, conheci um menino numa balada em BH. o nome dele era Nico, e me lembro que ele havia me convidado pra conferir seu lounge, em um dos vários ambientes que tinha na festa. Nico é um dos Djs mais experimentais e criativos que já conheci.Naquela noite ele tocava uma mistura de mantras orientais com batidas electro, muitas flores, incensos e outras coisas do tipo davam um clima místico. Ele é daqueles hippies modernos, que não se apega a nenhum lugar, pessoas, mundo. sempre viaja e tá envolvido em algo novo e divertido. Nico é inquieto, é comunicativo e muito, muito simpático. ainda estou meio envergonhado de ter passado por ele correndo apressado na última vez que o vi na rua. Sempre é bom bater papo com ele. Num desses bate papos, ele me diz que tempos atrás, ele queria algo comigo, algo romãntico, mas que não acabou acontecendo, sem correspondência.
" Você era muito vaidoso. " me disse Nico.
fiquei meio surpreso, sem resposta. acho que ninguem fica normal quando estão falando de você, abertamente.
" Mas tudo bem, você é artista, e todo artista é vaidoso mesmo."
somos bons amigos hoje. mas hoje me lembrei dessa frase do Nico, sobre a vaidade que os artistas têm. Hoje foi um dia especialmente irritante profissionalmente. Levei uma puta-mega-ultra bronca no trabalho, por email dos chefes que viajam fora neste momento. resumindo: havia entendido que poderia trabalhar em casa já que mandariam materiais por email. é bem daquele tipo de puxão de orelha MESMO. ainda estou processando tudo pra chegar a uma conclusão se o sapo foi merecido ou não. mas estou pensando nisso agora, a tarde toda, a noite toda. essa vaidade e ego ferido dos que se consideram artistas. o que é ser artista nesse mundo real? Como manter algum tipo de orgulho artístico nesse cenário? faz diferença no meu micromundo me afirmar como artista perante necessidades, demandas e cobranças de resultados imediatos?
não vou ficar me lamentando sobre os pepinos e coisas chatas do trabalho nem dos meus chefes, acho um pouco deselegante fazer isso na net e também acho chato. Façamos isso na mesa do bar com cerveja, é melhor.
mas estou intrigado, a questão está tendendo seguir um eixo metafísico, e isso é perigoso. Quando o Nico me chamou de vaidoso, acho que consigo entender. Ainda mais ser artista no Brasil, a única coisa que temos mesmo é alguma aura que nos apegamos. uma fé, uma mística, um alento. é impressionante como o artista é um ser frágil e ao mesmo tempo forte. As vezes me sinto preso em um filme em slow motion. Acho que entendo quando pessoas muito famosas perdem a cabeça, ficam loucas. o artista é vaidoso sim, mas não poderia ser diferente disso. não faz sentido em ser tímido e não se despir de alguma forma. isso é prazeroso, isso é erótico. cada reação, cada elogio, cada deslocamento mínimo de lugar é uma sensação fantástica de poder, de manipulação, que seja de um milésimo de segundo. um jogo. mas isso tem seu preço, essa vaidade. é se tornar refém dos próprios fetiches, é uma eterna insastisfação, é ficar o tempo todo em pânico olhando pela fenda da cortina do palco e contando quantas pessoas estão entrando no teatro. se afirmar como artista é um desafio que testa todas suas noções de sonho, de ridículo, de humano, de especial e de banal. tem horas, que dá vontade de ser a mais banal das criaturas, como agora, mas já percebo a contradição, pois um ser "comum" estaria dormindo no mais profundo sono agora, sem tempo e pretensões de que alguém pudesse ler seus desabafos. não adianta. Nico tava certo.
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Um comentário:
a tal da vaidade se volta contra o vaidoso. Moral da história: seja humilde? Nããããoooo....
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