terça-feira, 23 de junho de 2009

Meu Diploma

Meus amigos jornalistas andam surtados com a tal não obrigatoriedade do Diploma de Jornalismo a partir de agora.Muitos argumentam bem, com boas justificativas sobre o valor de uma formação acadêmica, o que não discordo de forma alguma. na verdade, nem quero entrar no terreno da profissão de jornalista, seria muito pretensioso da minha parte meter muito o bedelho, pois não sou da área.

Mas o que sempre percebo, é que por trás de qualquer polêmica sempre haverá algo mais complexo e obscuro que nem sempre é discutido. no caso dessa notícia sobre o fim do diploma aho que existem várias questões que ainda não vi nenhum jornalista rebatendo, ou choramingando, como vários andam fazendo.

Me refiro à aura que o diploma representa na vida dessas pessoas. e na minha também, na sua. Vivemos em um país em que ter curso superior significa para a esmagadora maioria da população, a principal, a mais válida ou a única forma de ter um EMPREGO decente. uma profissão, um trablho com um ótimo salário. e só. isso sempre me causou um certo estranhamento, ainda mais agora vendo pessoas - jornalistas- que sempre considerei tão cultas, se manifestarem de uma forma um tanto imatura e reacionária com o fim do Diploma.
Me pergunto e pergunto à esses amigos se o que não importa foi todo o contato, o tempo em que permaneceram e todas as vivências que aprenderam no tempo que estiveram na Universidade. o que faz diferença agora, com os que estão por vir, os futuros jornalistas. não entendo o motivo para tanta comoção, se a princípio você já tem planos traçados, mestrados, doutorados, enfim, é reduntante dizer aqui que estudo nunca é demais, e que se quisermos poderemos e devemos sempre nos aperfeiçoar, se reciclar.

Talvez o que vocês, caros jornalistas, não queiram assumir, é que estão ressentidos com a perda da aura que o diploma tinha até então. a aura mágica, que ele como símbolo de uma conquista, de entrega e esforço representa pra você e para a sociedade. Fazer um curso superior no Brasil é um símbolo de poder, de diferença. é o falado nível de excelência acadêmica. Me sinto seguro pra dizer isso, pois me formei na mesma instituição Federal que vocês, mas venho de um curso ( Artes Plásticas ) que na prática, o diploma não tem valor algum. Então, acho que deveriam focar em vocês mesmos e deixarem os outros de lado. vocês não tem nada a perder, a se prejudicar.
Não tenho a menor pretensão de ser jornalista e escritor, mas tive vontade de escrever esse post e que outras pessoas o lessem.
Vocês mesmos me disseram que grandes escritores hoje começaram em redações décadas passadas sem nunca terem cursado nada. você pode ser um ótimo profissional com ou sem diploma. e também não entendo porque tanta gente ficou ofendida com a comparação da profissão de jornalista com a de cozinheiro. eu amaria ser comparado com um bom cozinheiro.
Sei que é triste se desapegar da aura que o diploma tem. mas é assim que a vida é. Estudantes da UFMG e outras universidades "fodonas" se acham demais. se acham os melhores, os escolhidos, a nata. como estudante da UFMG passei por vários momentos da mais pura vergonha alheia. Cursos "carro-chefe" ( como a própria reitoria se refere ) como Engenharias, Medicina, Direito e Comunicação Social levam isso muito a sério. e por isso se sentem afrontados quando sentem que seu território até então exclusivo e para selecionados tem suas barreiras desfocadas. é a perda de um status, de um sentimento de de maculação de uma suposta nobreza. isso me entristece, pois todo aquele verniz acadêmico soa desbotado, feio, falso.

acho que a época da Graduação sem sombra de dúvida foi a melhor época da minha vida. o que não quer dizer que tenha sido a mais cor de rosa ou sem lágrimas. nunca aprendi tanto, nunca me senti tão dono de mim mesmo, tão honesto com meus sentimentos, tão querido, tão cercado de cultura e conhecimento. mas tenho noção que conhecimento, livros, toda essa herança de cultura da humanidade está em qualquer lugar.

tenho orgulho do meu diploma que ainda não peguei por preguiça de ir ao banco pagar uma boleta de 40 reais. ele também representa uma conquista, o fim de um ciclo, eu e somente eu pode sentir de verdade no coração o que é isso. com ou sem aura, é uma página importante na minha história. o resto, os outros, a obrigatoriedade ou não, nada disso importa, se você considera sua vida uma obra de arte.

e arte não precisa de diploma.

3 comentários:

Anônimo disse...

*CLAP CLAP CLAP*

paulo raic disse...

bravo!

Gibran Rubinger disse...

Vivemos em uma sociedade da pose e acumulação, onde ate então a visão de especificidade é o que é avaliado pelas empresas.
Vejo da seguinte forma, se buscarmos a sobrevivência como profissionais liberais autônomos não teremos grandes problemas quanto a titulações. Mas se buscarmos o caminho das corporações a situação já e bem complicada. Pois ainda existem vestígios do pensamento industrial. A visão que apresentamos é a mesma de um produto comprado por catalogo, avaliados pelo o ano de fabricação, acessórios e adicionais.

Prefiro pensar que o conhecimento, cultura e vivencia poderão me dar condições de independência e sobrevivência.
Concordo com você a vida é uma obra de arte! Estamos expostos ao jogo do capital (o status é apenas uma das regras deste sistema), e quem consegue encontrar soluções para viver fazendo o que se gosta e um verdadeiro artista.