sábado, 18 de abril de 2009

Necessária infelicidade.



Tenho aqui dois quartos, no caso estava no quarto dos fundos, junto à cozinha, onde passo as noites em claro e geralmente nesse quarto o que me desperta é o bom cheiro de alho e cebola fritando, a panela de pressão do feijão, minha mãe mexendo seus caldeirões.

Por mais meiga e aprazível que sejam essas descrições matinais, geralmente acordo bem mal humoradinho e sufocado, assustado e com o corpo..cansado.mas não vamos falar dos meus cada dia piores distúrbios do sono aqui hoje.

Hoje foi diferente. Pensei no que escreveria aqui. Estava com saudades e medo de escrever. Muito medo. Geralmente minhas tentações pra digitar nesse blog são picos de muita tristeza ou muita alegria. E um teclado nessas horas pode fazer um estrago muito forte, tanto pode causar um bem imensurável como uma desgraça. Agora, de madrugadinha estou refletindo nos sinais, nos fatos e sentimentos do dia de hoje que mexeram comigo. Como comecei, acordei feliz, com notícias maravilhosas. O celular que raramente toca aqui no interior, hoje tocou, 2, 3 vezes:

Uma notícia extremamente animadora profissionalmente, uma demonstração de carinho, uma massagem no coração daquelas de surpresa, bobas, que não dizem nada a princípio, mas que te fazem dar um sorriso bobo..



Boa parte do dia foi uma nova e calma rotina que estou aprendendo a construir aqui. Dou aulas de reforço escolar pro meu irmãozinho que está péssimo em ortografia, vou pra minha academia que voltei a pegar gosto pelos exercícios, vejo a novela, os jornais, almoço e janto todo dia e nas horas certas, essa vidinha. PROVINCIANA. Mas é uma vidinha misturada com as notícias e surpresas que me acordaram.

Uma vidinha que anda salpicada com momentos de choque, desgraça, ódio, absurdo, mágoa, muita mágoa. E também com tudo que é o contrário disso. E claro. Com a excitação do próximo capitulo.

O que move essa vidinha contraditória, é a esperança, é a fé em algo, não importa o que seja. Pouco importa o objeto dessa fé. Pra você pode ser um emprego, um amor, uma cura para sua doença, um corpo sarado, fama, sexo..talvez no fim, tudo leve ao mesmo lugar, que acredito ser um sorriso, aquele sentimento que buscamos a vida toda que é se sentir especial nesse mundo.




Nessa busca de se sentir especial eu e você perseguimos com muita fome a tal estabilidade que rima com uma palavrinha desgraçada chamada felicidade. Que porra é essa chamada Felicidade? Desconfio que a tal felicidade e nossa obsessão por ela é o que nos fode, é o que nos mais decepciona. Falando assim parece que sou fechado e deprimido, mas acho que não, sou um palhaço.

Porque agora, nesse exato momento não acredito que exista uma felicidade. Minha ultima semana foi um campo de batalha na minha mente e no meu ego, sorvendo todas as mágoas de caboclo, de cacique, do cowboy, do diabo que tenho direito. Porque hoje especialmente recebi boas e gostosas noticias, não quer dizer que virei uma pessoa feliz, assim magicamente.

Não só isso, mas sinto vergonha de afirmar, de panfletar, de escancarar pro mundo que estou feliz quando é caso. Eu não sei. Tenho uma desconfiança absurda com quem faz questão de se mostrar uma pessoa convicta do seu bem estar. Só fiquei mais esperançoso com essa vida, e isso não tem preço. É isso que quero perseguir.

Mais sorrisos de 1 minuto. Mais coisas que talvez não são concretas como as que ainda sonho, mas que me movem, ou me dão essa ilusão. Eu faço questão. Eu não tenho outra saída a não ser essa. Depois desse dia tão gostoso, no meio da rua - interditada -tinha uma multidão. Ambulâncias, carros da polícia, pessoas chorando, macas.

O ônibus com os estudantes da cidade vizinha que os traziam pra estudar a noite na Faculdade daqui capotou na estrada. Sei que morreu alguém, mas ainda não sei quantos. Paro a bicicleta e pergunto sobre, e me contam outros detalhes.
Estou me perguntando agora se alguém que estava no ônibus tinha tido um dia feliz como o que eu tive.




Não serei hipócrita e dizer que fiquei menos otimista, que as coisas que me alegraram desapareceram com a notícia do acidente das pessoas que não conhecia. Não. Não mudou nada. Mas não paro de pensar no que elas estavam sentindo antes da tragédia. O que os que sobreviveram e os queridos dos que morreram estão sentindo agora todos nós sabemos.

Mas e antes..do que falavam as amigas nos bancos? Aquele rapaz iria conseguir aquele tão desejado estágio. Aquela paixão antiga dela reapareceu e mandou um beijo, ela ficou toda boba. Todos estavam com planos, buscando algo, como nós.
Tenho duas opções.
A primeira: Acredito no eterno enquanto dure, mergulho minha cabeça no oceano da minha paixão por algo, na minha felicidade que aparecerá e vou agarrá-la com todas as forças e jamais permitirei que alguém ouse estragá-la. É o que chamam de viver a vida intensamente.

A segunda: aprender a viver com o efêmero. A aceitar que minha felicidade pode desaparecer com a rapidez de um relâmpago. Talvez aprender a ser como borboletas, libélulas e belos insetos que sabem que viverão por no máximo 1, 2 semanas. Aceitar o fato que vou oscilar sempre e não me apegar.

Terceiras, quartas, quintas opções. Será um prazer conhecer outras.
Termino aqui, feliz, apesar de tudo. Mas talvez amanhã não. Não sei se essa desconfiança é negativa ou positiva. Se me fará uma pessoa melhor. Mas por ora, é o que me deixa mais calmo e sereno. Vamos ver por quanto tempo.




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Um comentário:

Pedro disse...

Curto muito seus textos sobre suas sensações e sentimentos de seus dias aí, me faz lembrar quando passo muitos dias em minha casa no interior...